Capítulo traduzido do livro Your Rainforest Mind: A Guide to the Well-Being of Gifted Adults and Youth, de Paula Prober
Eu perdi mais de 9.000 arremessos na minha carreira. Eu perdi quase 300 jogos… Eu falhei de novo e de novo e de novo na minha vida — e é por isso que eu tenho sucesso.
~ Michael Jordan
Perfeccionismo Extrínseco
Pessoas com pensamento em arborescência (PEAs) experimentam dois tipos específicos de perfeccionismo. Veja se alguma das afirmações abaixo se aplica a você:
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- Você foi excessivamente elogiado(a) por suas conquistas quando era jovem.
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- Você passou a acreditar que era amado(a) por causa das suas realizações.
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- Você sentia que precisava corresponder às expectativas de que era inteligente, para não decepcionar outras pessoas ou a si mesmo(a).
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- Se você comete até um erro simples, sente-se um fracasso.
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- Se você erra, isso prova que você não é tão inteligente quanto os outros pensam, e esse é um pensamento assustador.
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- Você está acostumado(a) a aprender coisas rapidamente, então não quer correr o risco de tentar algo em que talvez não se destaque imediatamente.
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- Os trabalhos escolares eram fáceis, então você podia procrastinar até o último minuto e ainda tirar um A (nota máxima). Agora, você não sabe como não procrastinar.
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- Se você procrastina, culpa o seu produto final pela “falta de tempo” porque não quer que as pessoas saibam que você não é tão inteligente quanto dizem que você é e, assim, não arriscar uma avaliação negativa de algo no qual você colocou seu coração.
Os itens desta lista são experiências do que chamo de “perfeccionismo extrínseco”, às vezes referido como perfeccionismo insalubre, neurótico ou desadaptativo. É um perfeccionismo aprendido externamente que se desenvolve na infância. Qualquer pessoa pode adquirir esse tipo de perfeccionismo.
Geralmente, é o resultado de crescer em uma família disfuncional onde você se sentia inadequado(a) de alguma forma. Simplificando, você decidiu que, se pudesse ser perfeito(a), seus pais iriam amá-lo(a). Mas, se você é um(a) PEA, há elementos adicionais.
O perfeccionismo extrínseco é uma necessidade insalubre de estar certo, ser o(a) melhor e não cometer erros como forma de provar que você é digno(a) de amor. Com esse perfeccionismo, você coloca pressão sobre si mesmo(a) para atingir os níveis mais altos o tempo todo. Até pequenos erros parecem fracassos. E fracasso equivale a não ter valor.
Curiosamente, PEAs não precisam de uma família disfuncional para serem perfeccionistas. Se sua precocidade foi excessivamente elogiada por pais, professores ou parentes, ou se houve uma ênfase exagerada em notas ou desempenho, você pode ter concluído que seu valor como ser humano dependia do seu desempenho. Cometer erros simples, então, pode ser uma ameaça à sua própria identidade.
Quando você era criança, provavelmente aprendeu habilidades mais cedo do que a maioria das outras crianças. Isso pode ter feito com que os adultos em sua vida prestassem atenção extra e, talvez, comentassem de forma exagerada sobre sua inteligência e suas realizações.
Você também pode não ter experimentado tanto o processo de tentativa e erro nas tarefas de desenvolvimento iniciais, de modo que não vivenciou um processo de aprendizagem que incluísse muitas quedas e recomeços.
Ao longo do tempo, isso criou uma dependência da facilidade de aprendizado e dos elogios, junto com a crença de que você era amado(a) por suas conquistas. Assim, seu senso de identidade se construiu sobre uma base de pressão para alcançar e alcançar com facilidade.
Eleanor, uma cliente de cabelos cacheados na casa dos 20 anos, descreveu sua necessidade de aprovação como um “vício”. Ela disse que recebeu tantos elogios por conquistas quando criança que se tornou dependente disso. Ela havia sido a “queridinha do professor” e agora, já adulta, percebia-se desesperadamente buscando afirmação do seu novo chefe.
Seu comportamento a desagradava, mas ela não sabia como controlá-lo.
Outra cliente, Michelle, descreveu seu padrão de desistir quando percebia que não aprendia algo com facilidade. Ela disse que tinha talento natural para o futebol e, em certo momento, passou para a posição de goleira, onde teve sucesso relativamente rápido.
Então, à medida que precisava aprender mais para melhorar suas habilidades, ela chegou àquela fase desconfortável em que precisava praticar novas técnicas antes de se tornar boa nelas. Nesse ponto, ela desistiu.
Assim como Michelle, você pode não se dar tempo para praticar novas habilidades. Talvez não perceba que a maioria das pessoas precisa de muita prática para dominar algo. E, no entanto, quando aprender não é fácil, você se sente desconfortável e confuso(a).
Procrastinação
O perfeccionismo extrínseco, então, muitas vezes leva à procrastinação por causa da pressão para ser perfeito. A procrastinação se torna uma forma de reduzir essa pressão e evitar decepcionar a si mesmo(a) e aos outros.
Você pode dizer para si mesmo(a): “Se eu fizer na noite anterior ao prazo e não ficar ótimo, é porque eu não tive tempo.” Assim, acaba deixando para concluir a tarefa no último minuto.
Na maioria das vezes, você ainda consegue produzir algo de qualidade, mesmo em pouco tempo, o que só complica as coisas. Na verdade, eu me pergunto se essa capacidade de produzir qualidade rapidamente não é a principal razão pela qual tantos PEAs caem na armadilha da procrastinação.
Os padrões de procrastinação podem começar na escola, com tarefas que não representam desafio. Você consegue concluir um trabalho na noite anterior ao prazo e ainda tirar um A (nota máxima). Adiar até o último minuto para terminar uma tarefa acaba sendo reforçado por um sistema escolar que não motiva seus alunos mais brilhantes.
Uma vez que o perfeccionismo e a procrastinação se instalam por anos, esses comportamentos e crenças são difíceis de mudar. No livro Procrastination, de Jane Burka e Lenora Yuen, elas explicam:
Confrontar e mudar suposições antigas sobre você e sua família pode ser perturbador e desorientador. É por isso que a procrastinação é tão difícil de superar. Não é simplesmente uma questão de mudar um hábito; é preciso mudar seu mundo interior. No entanto, à medida que você acessa capacidades e partes de si mesmo(a) que foram retidas pela procrastinação, pode sentir grande prazer em reivindicar todo o seu ser. Essa integração é a verdadeira base da autoestima.
Outros fatores também entram em jogo no mundo complicado e contraditório do perfeccionismo e da procrastinação. PEAs muitas vezes se sentem enormemente frustrados com tarefas básicas e repetitivas. Consciente ou inconscientemente, você pode pensar: “O que estou fazendo é tão banal; pelo menos posso torná-lo mais interessante adicionando pressão de tempo.” A urgência produzida pelo prazo torna a tarefa mais intelectualmente atraente.
Em outras situações, PEAs acham que tarefas simples estão longe de ser simples. Quando a ensaísta e naturalista Diane Ackerman foi reprovada em Lógica na faculdade, ela descreveu como um silogismo básico, como “Johnny tem um taco. Todos os tacos são azuis. De que cor é o taco de Johnny?”, se transformaria em:
Azul é tradicionalmente a cor da tristeza, da Virgem Maria, do céu — talvez ele prefira uma cor que reflita melhor seu humor ou objetivos. Eu notei que sombras na verdade não são pretas, elas são azuis. Ele iria querer um taco da cor de uma sombra? Azul é uma cor facilmente afetada por mudanças de luz… Que tipo de azul é, afinal — perolado, safira, luminoso?
Ela conclui: “Eu era estranha demais para passar em Lógica.”
Em outras palavras, você prospera em atividades que o fazem pensar fora da caixa. Ou você tira notas melhores nas matérias mais difíceis porque está mais envolvido(a). Você consegue um A em química orgânica, mas se desfaz quando é solicitado(a) a aprender algo que já sabe ou a fazer algo mecânico; tira um D em Inglês 101 porque já conhece o básico há anos.
É difícil para os outros entenderem como “se você é tão inteligente”, não consegue fazer tudo de forma fácil, rápida e completa.
Você já pensou consigo mesmo(a): “Eu não posso ser medíocre (ordinário[a], trabalhar duro, pedir ajuda, perder)”? Essas crenças também contribuem para o perfeccionismo e podem ser resultado, novamente, de crescer em um ambiente que supervalorizou sua inteligência e realizações.
Isso acontece naturalmente quando pais, parentes, professores e orientadores bem-intencionados ficam impressionados com suas habilidades incomumente avançadas.
Ajustando Expectativas
Embora os elogios precoces e as expectativas de ser inteligente estabeleçam a necessidade de ser o(a) melhor, também existe a expectativa de que aprender será fácil. Afinal, você provavelmente compreende muitas ideias novas e conceitos difíceis sem grandes dificuldades.
Quando isso se torna um padrão, você muitas vezes não aprende como lidar com um problema ou como enfrentar a frustração. Assim, pode achar difícil se arriscar em atividades nas quais não há garantia de sucesso, porque o sucesso acadêmico é o que você passou a esperar de si mesmo(a).
É outro paradoxo: você deseja desafios intelectuais e, ao mesmo tempo, tem medo deles. Se não tiver sucesso, isso vai provar o que você sempre soube — que você é um(a) “impostor(a)”. Na verdade, o que você precisa aprender é que seu valor não depende de quão inteligente você é ou de quanto você realiza, e que o aprendizado significativo muitas vezes exige tempo, esforço, erros e fracassos.
Esse “fenômeno do impostor” é mais comum do que você pode imaginar. Você pode sentir pressão para ser a pessoa mais brilhante em todas as situações, mas por baixo dessa fachada está o medo de que descubram que, afinal, você não é tão inteligente assim.
Scott era um estudante de pós-graduação que se destacou durante toda a escola pública em acadêmicos, esportes e arte, mas depois ingressou em um programa de arquitetura altamente competitivo na faculdade.
Ele teve muita dificuldade para lidar com a experiência de ser apenas um entre vários alunos inteligentes e sentia-se sobrecarregado e ansioso na maior parte do tempo. Se tivesse tido experiências anteriores com desafios mentais e colegas intelectualmente semelhantes, e aprendido a lidar com situações difíceis, estaria mais preparado para enfrentar as exigências maiores da faculdade.
Outra cliente, Chris, veio me procurar por causa de ansiedade na faculdade. Ela nunca tinha aprendido a estudar porque os trabalhos escolares sempre haviam sido muito fáceis para ela. Não percebia que o sucesso exigia esforço, erros e fracassos.
Quando ingressou em um programa rigoroso de ciências, ela entrou em pânico. Já não era mais a melhor aluna. Teve que aprender os passos necessários para concluir uma tarefa. Precisei convencê-la de que ela ainda era inteligente e incentivá-la a deixar de lado a necessidade de ser a melhor. Ela disse: “É esmagador. É tão difícil abandonar isso. Tudo vai ficar abundantemente claro: esta pessoa é um fracasso.”
Pesquisas recentes sobre expressão gênica e plasticidade cerebral podem ajudar a aliviar as pressões associadas ao perfeccionismo. Tanto o autor David Shenk quanto o jornalista Geoff Colvin enfatizam que a inteligência não é um fenômeno fixo. De fato, Shenk intitulou o segundo capítulo de seu livro The Genius in All of Us (“O gênio em todos nós”): “Inteligência é um processo, não uma coisa”. Se você imaginar que a inteligência não é fixa, mas cresce com esforço, persistência e — sim — fracasso, talvez consiga relaxar seu pensamento “tudo ou nada” e adotar o que a professora de psicologia de Stanford, Carol Dweck, chama de “mentalidade de crescimento”.
Mesmo que você tenha nascido com pensamento em arborescência, ser inteligente não é uma questão de “ou/ou” — especialmente quando se trata de realizações avançadas. Estudo, prática, esforço, disposição para correr riscos, erros e mais prática são todos necessários.
Na minha opinião, Shenk e Colvin falam mais sobre realização do que sobre intelecto, mas suas teorias podem ser úteis ao lidar com o perfeccionismo. Eu acredito que a teoria de Dweck foi mal interpretada por alguns e, tal como eu a entendo e explico aos clientes, percebo que ajuda a aliviar a pressão para ser perfeito.
Pedir ajuda pode ser outro desafio se você sente que deveria saber todas as respostas. Como você pode precisar de ajuda quando é a pessoa a quem todos recorrem? Talvez você já tenha procurado ajuda, mas a tenha achado insuficiente. Você pode até ter mais habilidades do que alguém que você contrata e que é reconhecido como especialista naquela área. Isso pode ser frustrante e desanimador.
Barbara Kerr, professora de psicologia do aconselhamento na Universidade do Kansas, explica:
Indivíduos superdotados estão acostumados com autoridades que não são tão inteligentes quanto eles, e muitas vezes perdem a esperança de encontrar alguém que possa falar sua língua e corresponder ao seu entusiasmo medida por medida. Tornam-se cínicos e resistentes a ajudantes, tendo tido muitas experiências com professores e orientadores que simplesmente não entendem ou não querem entendê-los.
Medo do Sucesso
O medo do sucesso também pode impactar o perfeccionismo. Se você foi alvo de provocações por ser “cabeça” ao longo dos anos ou foi orientado(a) a “diminuir” sua inteligência, então pode estar escondendo seu talento e minimizando suas habilidades para se encaixar e ser aceito(a). Em um nível inconsciente, você ainda pode querer agradar seus pais mantendo-se pequeno(a), contido(a) ou invisível se, desde cedo, sentiu o desconforto deles com sua curiosidade.
Se já sentiu ciúmes vindos de pais, irmãos, amigos, professores ou outros, pode acreditar que irá machucá-los sendo tudo o que é. Consequentemente, você não se estende até onde poderia.
O que é curioso é que você pode sentir, ao mesmo tempo, a pressão para alcançar e a necessidade de esconder suas realizações e habilidades. Não é de admirar que seja difícil entender e explicar sua experiência.
Phyllis, uma cliente amável na casa dos 50 anos, falou sobre um padrão de esconder sua luz e minimizar prêmios que recebeu na escola. Certamente, se gabar é inadequado e pode ser destrutivo. Todos nós conhecemos pessoas que evitamos porque parecem impressionadas demais consigo mesmas.
Mas também sabemos que essas pessoas provavelmente precisam se vangloriar por causa de suas inseguranças. Em contraste, PEAs tendem a compensar em excesso, encolhendo. Phyllis me contou que nem sequer incluía todas as suas habilidades em seu currículo porque era muito difícil reconhecer suas muitas conquistas.
Entenda a diferença entre se gabar de suas realizações e viver sua vida em plenitude. Mesmo que você supere seus pais ou seus mentores, mesmo que outros fiquem desconfortáveis, é importante que você entre em sua totalidade.
Você pode acabar não apenas escondendo suas habilidades, mas também evitando o sucesso por causa da pressão que pode vir com ele. Uma vez que você é visto(a) como realizado(a), muitas vezes existe a expectativa de que sempre terá um desempenho exemplar. Essa pressão pode ser simplesmente insuportável.
Ter que corresponder a realizações passadas, no entanto, pode ser algo que você sente vindo dos outros. Pode ser real. Pode não ser. Mas, para evitar essa pressão — real ou imaginária — você permanece pequeno(a).
E, se sua identidade está entrelaçada com suas realizações, pode ser mais fácil apresentar um desempenho inferior do que enfrentar a pressão dos elogios e o risco do fracasso. Como explicam Burka e Yuen:
[V]ocê teme que o sucesso crie um sentimento de impotência em vez de um senso de poder; que você deixe de ser você mesmo(a), que se transforme em alguém de quem não gosta, e que não consiga impedir que esse “você” estranho tome conta.
No livro A Guerra da Arte, o autor Steven Pressfield acrescenta:
Nós sabemos que, se abraçarmos nossos ideais, teremos que provar que somos dignos deles. E isso nos apavora. O que será de nós? Vamos perder nossos amigos e nossa família, que não mais nos reconhecerão. Acabaremos sozinhos, no frio vazio do espaço estrelado, sem nada e ninguém a quem nos agarrar.
Claro que é exatamente isso que acontece. Mas aqui está o truque. Acabamos no espaço, mas não sozinhos. Em vez disso, estamos conectados a uma fonte inesgotável, infinita e incansável de sabedoria, consciência e companhia. Sim, perdemos amigos. Mas também encontramos amigos, em lugares que nunca pensamos em procurar. E são melhores amigos, amigos mais verdadeiros. E somos melhores e mais verdadeiros para eles.
Bill Plotkin explica o medo de viver em nosso pleno potencial desta forma:
Nós ansiamos por descobrir os segredos e mistérios de nossas vidas individuais, encontrar nossa maneira única de pertencer a este mundo, recuperar o tesouro nunca antes visto que nascemos para trazer às nossas comunidades… Ao lado de nosso maior anseio vive um terror igualmente grande de encontrar exatamente aquilo que buscamos. De alguma forma, sabemos que fazer isso irá abalar irreversivelmente nossas vidas, nosso senso de segurança, mudar nosso relacionamento com tudo o que consideramos familiar e querido. Mas também suspeitamos que dizer “não” aos nossos desejos mais profundos significará autoaprisionamento em uma vida pequena demais.
Perfeccionismo Intrínseco
Outro tipo de perfeccionismo, que chamo de “intrínseco”, também é conhecido como perfeccionismo saudável, positivo ou adaptativo. Perfeccionistas intrínsecos:
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- Buscam beleza, equilíbrio, harmonia, justiça e precisão em todas as coisas.
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- Muitas vezes são idealistas e têm expectativas e padrões extremamente elevados para si mesmos(as) e para os outros.
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- Eram vistos como preguiçosos(as) ou teimosos(as) na escola, mas na verdade estavam lutando com seu desejo de profundidade, abrangência e precisão.
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- Podiam tirar um A em um trabalho escolar, mas, se não estivesse de acordo com seus próprios padrões, não ficavam satisfeitos(as).
Essas qualidades são inatas em todo PEA que já conheci. Esse desejo profundo e pleno de beleza, equilíbrio, harmonia e precisão está na raiz da verdadeira qualidade e é o que produz grandes sinfonias, catedrais, cirurgias e iPhones. É por isso que você pode se emocionar até as lágrimas quando a luz bate nas folhas de maneira perfeita ao entardecer. E pode ser o motivo pelo qual você pesquisa até altas horas da noite ou não consegue terminar um projeto porque ainda há muito mais a descobrir, provar, ver, ouvir, cheirar e compreender. Seus padrões são excepcionalmente altos.
Outros podem rotular suas expectativas como irreais, mas não é tão simples. Você tem uma visão do que é possível e anseia por alcançá-la. Por causa de sua capacidade incomum de produção, quando está motivado(a), consegue criar em um nível muito alto. Mas pode nunca se sentir satisfeito(a) porque está sempre buscando a perfeição. Continua a elevar o padrão.
Você pode se sentir obcecado(a) ou impulsionado(a) quando se trata de criar ou aprender. Precisa cumprir uma “agenda interna”. Isso pode parecer disfuncional para os outros, mas não é. Lembro-me de uma amiga que dizia, quando estava particularmente absorvida em um projeto, que estava “exagerando” e que precisava desacelerar e fazer menos. Mas, na verdade, ela estava manifestando sua visão e, a partir disso, produzia um trabalho extraordinário. Ela também era acusada de ser crítica demais consigo mesma e com os outros, quando, na verdade, estava fazendo observações perspicazes e cuidadosas.
O perfeccionismo intrínseco pode ser difícil de entender porque pode se parecer com o perfeccionismo extrínseco. Também pode significar que certas obrigações rotineiras sejam negligenciadas ou deixadas de lado, ou que trabalhos não sejam concluídos — um jeito de ser que não se parece nada com perfeccionismo.
Como resultado, você pode ter que se esforçar para priorizar projetos, para não reprovar em uma matéria ou perder um emprego.
E isso não se aplica apenas a grandes projetos. Você pode sentir a necessidade de fazer o bolo de carne perfeito ou a rotina de exercícios precisamente coreografada. Ou, como contou meu cliente Gary: “Passei uma hora e meia em um e-mail de três frases. Eu tive que deixá-lo longo antes de poder deixá-lo curto. Ainda acho que não está certo.”
Mas é provável que você sempre precise buscar beleza, equilíbrio, harmonia, justiça e precisão, porque é isso que alimenta sua alma e faz seu coração se elevar. Uma vez que entender isso, será necessário encontrar maneiras de lidar com a papelada mundana e necessária da vida, porque, se acabar na prisão, digamos, por sonegação de impostos, será difícil se concentrar nas últimas fotos do Rover em Marte. Sério, uma vez que PEAs percebem que não precisam abrir mão de sua obsessão, eles conseguem fazer pausas para lidar com os detalhes necessários do funcionamento humano.
Curiosamente, Shenk descreve um cenário que vejo com frequência como parte do perfeccionismo intrínseco:
A prática deliberada requer uma mentalidade de nunca, jamais, estar satisfeito(a) com sua habilidade atual. Exige uma autoavaliação constante, uma inquietação quase patológica, uma paixão por mirar consistentemente um pouco além da própria capacidade, de modo que a decepção e o fracasso diários sejam, na verdade, desejados, e uma determinação incessante de se recompor e tentar de novo, e de novo, e de novo.
No caso do(a) PEA, eu não diria que o fracasso é preferido; na verdade, ele é frequentemente temido. A inquietação é forte, mas não patológica. E, ainda assim, o impulso, a visão, a obsessão pela beleza em seu sentido mais amplo, permanecem constantes.
Como explica Linda Silverman, diretora do Gifted Development Center em Denver:
O perfeccionismo é um componente da busca pela autoatualização…
O Eu superdotado vislumbra o que poderia ser, em vez de apenas o que é, deseja intensamente trazer essa visão para a realidade e, muitas vezes, é capaz de realizar seus sonhos.
Ou, como sugere Mary-Elaine Jacobsen: “O que parece um traço neurótico obsessivo-compulsivo pode, na verdade, ser a manifestação do trabalho hercúleo e da perseverança inerentes ao processo de autoatualização.” Ela acrescenta que a insatisfação, a impaciência e a busca contínua não são neuróticas quando vistas nesse contexto.
Essa insatisfação existe por causa dos seus altos padrões e também pela sua necessidade de novidade e estímulo. É como o atleta que precisa treinar todos os dias. Se você não tiver seu exercício intelectual, que inclui oportunidades de expressão e expansão, seus “músculos” podem começar a atrofiar e seu humor pode despencar a ponto de uma depressão séria.
Padrões, expectativas e necessidade contribuem para esse tipo de perfeccionismo inato.
O perfeccionismo intrínseco pode ser o aspecto mais mal compreendido desse fenômeno tão complicado. E, ainda assim, em um dia muito bom, ele pode ser a fonte de sua maior satisfação.
Gina: Ela é tão inteligente, ela vai ficar bem
Gina, 24 anos, texana ruiva, veio me procurar por causa de dificuldades com perfeccionismo, tristeza e solidão. Era estudante de pós-graduação com dupla especialização em performance de dança e gestão de organizações sem fins lucrativos. Contou-me que era difícil fazer amigos e confiar neles devido à sua intensidade, altas expectativas e histórico de perdas. Descreveu uma família extensa complicada, dois pais educadores viciados em trabalho, um histórico de aconselhamento familiar e um irmão problemático que recebia grande parte da atenção.
Em muitas famílias, a criança superdotada pode ser negligenciada porque se assume que “ela vai ficar bem, vai descobrir sozinha, e por isso não precisa de ajuda”. Quando Gina recebia atenção dos pais, era por causa de suas conquistas. Esse foi o cenário que estabeleceu seu perfeccionismo extrínseco. Ela escreveu:
Minhas notas se tornaram uma obsessão para mim, e eu trabalhava para ter A em tudo.
Mal dormia, ficando acordada até tarde para vencer pilhas de deveres de casa.
Os ataques de pânico começaram no meu terceiro ano do ensino médio, quando a busca por faculdades se intensificou. Eu não tinha muita vida social, passava as noites fazendo lição e os fins de semana em atividades extracurriculares para deixar minhas aplicações para a faculdade mais impressionantes.
Gina tinha muito mais experiência que seus colegas universitários tanto em performance de dança quanto em gestão de organizações sem fins lucrativos. Sentia o ressentimento deles quando compartilhava o que sabia, tentando ser útil.
Extrovertida e motivada a aprender e realizar nos mais altos níveis, ela frequentemente se sentia decepcionada com amigos que se cansavam de interagir muito antes dela. Alguns de seus professores universitários não correspondiam aos seus padrões elevados. E
la descrevia raiva e frustração por não ser reconhecida, por ter que se conter e por receber estímulo intelectual insuficiente. Dizia: “Estou constantemente ajustando minhas expectativas perfeitas para conseguir existir neste mundo imperfeito. É uma negociação constante comigo mesma em todas as áreas da minha vida.”
Gina esperava que na faculdade teria liberdade acadêmica e apoio para seu entusiasmo intelectual. Infelizmente, isso raramente acontecia. Ela se deparou com técnicas de ensino rígidas e ultrapassadas, e professores intimidados por sua experiência e perguntas. Em vez de abraçarem sua curiosidade intensa, os professores pediam — de forma direta ou indireta — que ela desacelerasse, “diminuísse” e ajudasse outros alunos menos motivados.
“Eu preciso de alguém que me oriente de forma significativa, mas estou cinco passos à frente de todo mundo”, suspirou.
Gina tinha um sério problema com procrastinação. Adiava trabalhos importantes até a noite anterior ao prazo. Ainda assim, era movida pelo desejo de tirar apenas notas A e seus pais não aceitavam nada menos. Mesmo sentindo enorme pressão para ter sucesso, ficava paralisada pelo medo do fracasso.
Explicou: “Tenho que lutar tanto para me provar. Fico na defensiva e não confio em mim mesma… Preciso de apoio emocional, mas odeio ser vulnerável. É um sinal de fraqueza.”
Ela não conseguia começar a trabalhar até sentir que tinha que fazê-lo. Seu sucesso acadêmico e suas habilidades de comunicação mascaravam sua ansiedade, que se manifestava em muitos sintomas físicos: enxaquecas, DTM e dores crônicas de lesões ainda não totalmente curadas.
Ela estava consultando um naturopata, um massoterapeuta e um acupunturista que cuidavam de parte desses problemas.
Sem Limites
Gina disse que procrastinava com atividades sem sentido para não sentir sua solidão e outras emoções dolorosas. Comparou sua experiência de vida ao personagem principal do filme Sem Limites, que toma uma droga que facilita o uso de toda a capacidade cerebral e, com isso, cria o caos.
Como em muitos casos de adultos superdotados, este era complexo. Incluía a compreensão dos desafios do pensamento em arborescência, particularmente o perfeccionismo; dinâmicas familiares disfuncionais complicadas; e agressões físicas/sexuais por um ex-namorado. Ser compreendida e aceita como pessoa superdotada foi onde começamos.
Como com todos os meus clientes, Gina fez o teste de PEA, leu artigos e me fez perguntas. Apesar de sempre ter sido uma grande realizadora, duvidava de sua superdotação.
Exploramos formas de Gina reduzir o estresse e a tensão física por meio de atividades como yoga, massagem, caminhadas na natureza e hábitos alimentares mais saudáveis, e depois fizemos uma lista dessas opções para ela ter à mão. Ao mergulharmos mais profundamente nas razões para seu perfeccionismo e procrastinação, identificamos a ligação entre seu senso de valor e suas realizações, e seu consequente medo extremo de fracasso e má compreensão do que realmente é fracassar.
Questões relacionadas incluíam sua necessidade de ter algo em sua vida que pudesse controlar e a necessidade de criar mais estímulo intelectual.
Gina descreveu uma relação problemática com seus pais. Em particular, sua mãe parecia absorvida pelo trabalho e uma má comunicadora. Gina disse que, quando discordavam, a mãe não conseguia admitir erros. As interações eram frustrantes e desmoralizantes.
Explicou: “Não me sinto ouvida nem emocionalmente segura. Ela é autoritária e nunca está errada. Meus sentimentos não são válidos.” Mesmo assim, Gina tinha esperança de construir uma relação satisfatória com a mãe. Ela havia perdido suas duas amigas mais próximas ao se mudar de sua cidade natal para a faculdade e se sentia desamparada com a possibilidade de não poder recorrer aos pais para apoio.
Ainda mantinha a esperança de alcançar a mãe e receber a atenção e o amor que merecia.
Suspeitei que havia camadas mais profundas de emoção que não estávamos alcançando, mas quando tentei avançar nessa direção, percebi pela sua linguagem corporal que não era o momento certo. A agenda de Gina estava lotada de obrigações acadêmicas e iniciar um processo de luto poderia desestabilizá-la. Além da dupla graduação, Gina tinha uma bolsa de ensino de pós-graduação e administrava um escritório, criava bancos de dados e organizava apresentações artísticas no campus.
Como PEA, estava acostumada a realizar muito em pouco tempo, mas processar traumas é uma operação delicada, mesmo para um(a) aprendiz rápido(a).
Na reunião seguinte, Gina expressou preocupações sobre um relacionamento íntimo do passado com um homem que ela sentia ser a única pessoa que correspondia a ela intelectualmente, que a compreendia e com quem podia conversar sobre qualquer assunto.
Ela detalhou como o relacionamento terminou e como questões não resolvidas da infância dele criaram “dramas” que ela queria evitar. Foi uma perda enorme. Ela também contou sobre um relacionamento na faculdade com um homem abusivo, que começou a persegui-la depois do término.
Ficava claro que estávamos entrando em terreno mais desafiador. Pela primeira vez, Gina conseguiu acessar suas emoções em relação a esses relacionamentos e baixar um pouco a guarda comigo. Eu também percebi que, nesse estágio, seria contraproducente pressioná-la a compartilhar todos os seus medos e sua dor.
Embora Gina pudesse lidar com material intelectual em velocidade relâmpago, o processamento emocional de traumas precisa de um ritmo cuidadoso.
Depois de várias sessões, Gina relatou progresso em alguns pontos. Ela estava insatisfeita com duas disciplinas e marcou reuniões com ambos os professores. Nós planejamos juntas como conduzir essas conversas para que fossem eficazes e para que ela pudesse sugerir maneiras de os professores atenderem melhor às suas necessidades.
Ela se surpreendeu positivamente com os resultados. Um professor concordou em criar um projeto de estudo independente para que ela não precisasse frequentar a aula. O outro não alterou o curso, mas reconheceu suas habilidades e admitiu erros no planejamento da disciplina. Foi um começo, e Gina sentiu alguma satisfação.
Com a mãe, Gina organizou uma conversa por telefone com parâmetros claros para que não assumisse o papel de filha ouvindo exigências, mas sim o de adulta que expressa de forma direta o que precisa. Para surpresa de Gina, a mãe admitiu erros que havia cometido e concordou em prestar mais atenção aos interesses e necessidades da filha. Gina se sentiu aliviada e esperançosa.
Pisando no freio
Gina também relatou progresso com a procrastinação. Ela encontrou maneiras de estruturar melhor o tempo, dividir o trabalho em partes menores e reduzir a pressão que colocava sobre si mesma.
Ainda lutava com o perfeccionismo, mas, agora que entendia que seus padrões eram muito mais altos que os de colegas e professores, conseguia aliviar um pouco a exigência quanto à quantidade e à qualidade do que produzia. Passou a permitir que projetos menos importantes fossem apenas excelentes, em vez de perfeitos.
Ainda dizia: “Preciso ser perfeita o tempo todo em tudo”, mas já havíamos iniciado um caminho.
Gina continuava com dificuldade para fazer amigos. Dizia que aprendeu a “pisar no freio” às vezes para permitir que os outros a acompanhassem. Mas, muitas vezes, isso não bastava. Ela tinha opiniões fortes e as expressava prontamente. Preocupava-se profundamente com política e questões de justiça e igualdade.
Era, ao mesmo tempo, firme em suas convicções e muito sensível, ferindo-se facilmente. Amigos em potencial raramente permaneciam por muito tempo.
Apesar dos desafios, no final do ano letivo, Gina criou um recital final único para o curso de performance de dança, que demonstrava sua ampla gama de interesses e profundidade de conhecimento. Eu assisti à apresentação. Ficou claro para mim que algo extraordinário estava acontecendo no palco. Era o perfeccionismo intrínseco em sua melhor forma.
Gina veio a uma sessão após um fim de semana de treinamento com uma comunidade Dao, filosofia espiritual que estudava há algum tempo. Brilhando de entusiasmo, disse-me que estava “transformada” e descreveu o que parecia ser um profundo despertar espiritual.
Em particular, Gina conseguiu liberar parte da enorme raiva acumulada por anos de mal-entendidos, agressões, perdas e decepções. Eu esperava que desenvolver essa conexão espiritual pudesse ajudá-la a continuar aliviando a pressão para ser perfeita o tempo todo. Felizmente, ela também contou que havia conhecido pessoas com quem se identificava e que poderiam se tornar amigas, especialmente duas mulheres profissionais na faixa dos 40 anos.
Voltei a ouvir de Gina depois que ela retornou de um verão de viagens, e nos encontramos para mais algumas sessões. Ela havia sido profundamente influenciada pelas pessoas que conheceu e pelos familiares que visitou no exterior.
Expressou preocupações sobre como criar um futuro que lhe permitisse contribuir para um mundo melhor, conectando-se a uma espiritualidade mais ampla e não participando do que descrevia como “um sistema corrupto controlado por interesses corporativos”.
Estava repensando se deveria conseguir um emprego em uma organização para garantir renda e benefícios ou se lançaria por conta própria como consultora e viajante pelo mundo.
Gina já tinha contatos com uma organização internacional sem fins lucrativos que trabalhava com crianças e artes, e também tinha outras ideias. Suspeitava que ela poderia combinar suas habilidades empreendedoras com seu conhecimento de informática, sua formação em dança e sua capacidade de aprendizado rápido em várias áreas para construir um negócio de consultoria bem-sucedido após a graduação.
Eu esperava que Gina continuasse a acessar aconselhamento e outras modalidades médicas complementares à medida que traçava seu caminho de vida. Ela precisava de múltiplas formas de apoio para lidar com sua sensibilidade e complexidade.
Quando nosso processo de aconselhamento chegou ao fim, Gina compartilhou que havia construído uma visão mais clara e autocompassiva de quem era como pessoa com pensamento em arborescência. Passou a apreciar a beleza de seu perfeccionismo intrínseco. Reconheceu que entender as raízes da procrastinação a ajudou a ter mais controle sobre ela.
Estava mais gentil consigo mesma e, embora ainda tivesse padrões altíssimos, sua necessidade de realizar a qualquer custo havia diminuído.
Ao mesmo tempo, Gina ainda lutava com a questão de fazer parte de um sistema que considerava injusto e corrupto. Sua visão de perfeição tornava ainda mais difícil conviver com a hipocrisia e a injustiça. Ela tinha uma enorme capacidade para consciência mental, emocional e espiritual profunda.
Mas, mesmo ouvindo as motosserras à distância, continuaria de pé. Ela deixaria sua marca. Eu tinha certeza disso.
Diane: Apavorada com a Mediocridade
Diane, 33 anos, tinha grandes olhos castanhos, escuros e inquisitivos. Disse que queria ser “mais bem-sucedida” e alcançar seu “potencial não realizado”, mas que lutava contra baixa autoestima e considerável autocrítica. Mesmo tendo sido identificada para programas de superdotados desde o ensino fundamental, achou a faculdade difícil e levou dez anos para concluir o bacharelado em artes plásticas, com média final de 2,85.
Diane contou que esteve deprimida na faculdade e que tinha dificuldade para se concentrar ou concluir trabalhos. Disse que tinha interesse em “tudo” e um “problema de filtragem” e se perguntava se poderia ter TDAH. A escola pública havia sido fácil academicamente, mas difícil socialmente. Ela disse que era tímida e havia sido alvo de provocações por outras crianças.
Em uma das primeiras sessões, Diane, vestindo calças pretas e um suéter de gola alta escuro, descreveu sintomas de perfeccionismo. Leitora ávida desde os quatro anos, concluía o trabalho rapidamente e passava o tempo esperando que seus colegas alcançassem seu ritmo.
Disse que nunca havia realmente aprendido técnicas de estudo ou como dar passos para resolver problemas difíceis. Como resultado, agora evitava qualquer coisa que suspeitasse não conseguir concluir rapidamente. Como sua identidade havia se formado em torno de elogios por respostas rápidas e boas notas, seu senso de valor era ameaçado quando não atingia um nível excepcional. Provavelmente foi aí que seu perfeccionismo começou. Ela disse:
Eu espero entender as coisas imediatamente. Se não entendo, fico extremamente desconfortável e simplesmente abandono o que quer que seja. Tenho pavor de mediocridade ou de ser apenas comum.
A faculdade, então, foi confusa, desmoralizante e deprimente.
Mesmo com suas experiências difíceis na faculdade e seu medo de arriscar algo novo, Diane havia criado seu próprio site em um mercado online, onde vendia objetos curiosos encontrados, que as pessoas usavam para projetos criativos. Apesar de suas limitações de organização e foco, ela havia construído um pequeno negócio parcialmente bem-sucedido.
Não tínhamos certeza se ela tinha TDAH, mas, muitas vezes, quando um(a) PEA tem um transtorno de aprendizagem, seu funcionamento é alto o bastante para compensar o distúrbio — o que pode ter sido o caso de Diane. A mente com pensamento em arborescência pode parecer mais “mediana” por causa do problema de aprendizagem, mas, uma vez que o distúrbio é abordado, o funcionamento pode subir para níveis mais altos.
Bombardeada por Pensamentos e Imagens
Facilmente sobrecarregada e distraída, Diane disse que adorava notar padrões e texturas incomuns e diferenças na luz. Como conseguia encontrar conexões entre ideias e objetos díspares — e por causa dos recursos infinitos da internet —, ela se sentia bombardeada por pensamentos e imagens. Isso a impedia de dar passos concretos para concluir projetos.
Um dos nossos objetivos no aconselhamento era determinar se essa distração se devia a uma mente altamente criativa, a TDAH ou a uma combinação dos dois. Como ela tinha grande dificuldade com gestão do tempo, planejamento e organização, encaminhei-a para um(a) especialista em TDAH para avaliação.
Já encontrei clientes diagnosticados erroneamente com TDA ou TDAH, muitas vezes ainda na infância, mas a quantidade e o tipo de sintomas de Diane tornavam o diagnóstico mais provável. Ela marcou uma consulta e fez uma bateria completa de testes, que indicaram um nível moderado de TDAH. O(a) psicólogo(a) recomendou medicação e neurofeedback, aos quais Diane concordou em se submeter.
Diane estava no processo de se inscrever em programas de pós-graduação online para obter um diploma em ciência da informação quando começamos o trabalho, e iniciou o curso durante o aconselhamento. Embora isso a colocasse novamente diante de seus medos e fracassos acadêmicos, ela estava conseguindo acompanhar os trabalhos e entregá-los no prazo.
Alguns meses depois, no entanto, abandonou o programa, dizendo que ciência da informação não era exatamente o que imaginava e que não via benefício no conteúdo. Também se sentia frustrada com o material, pois não estava aprendendo nada novo. Eu me perguntei se o perfeccionismo dela havia influenciado essa decisão.
Confusa e Atrapalhada
Passamos algum tempo comparando traços da mente com pensamento em arborescência com comportamentos do TDAH. Diane disse que tinha grande dificuldade com transições, mudanças de ritmo e interrupções quando estava envolvida em algo. Explicou que seu cérebro estava “desfiado, desgastado, embaralhado e à deriva”.
Por se sentir tão “confusa e atrapalhada” durante as interrupções, Diane disse que precisava ser bastante metódica e orientada por rotinas para realizar tarefas ou até para lembrar uma lista de itens. Afirmou que conseguia fazer mais quando tomava a medicação. Antes, até tarefas simples, como pegar algo do chão, eram adiadas; com o medicamento, ela as realizava facilmente. Disse que, muitas vezes, era como se as rodas estivessem girando, o carro engatado, mas sem se mover. Falou da necessidade de “andaimes” e de ajuda para “encontrar o chão”.
Expliquei a Diane que PEAs podem ser aprendizes de imersão, mergulhando profundamente em um tema e não querendo sair até absorverem tudo o que puderem. Durante um estado de “fluxo”, PEAs perdem a noção do tempo e do espaço e têm dificuldade para retornar à realidade comum.
Ainda assim, eu acreditava que o grau extremo de dificuldade dela com mudanças estava ligado ao TDAH. A forma como descreveu sua melhora na realização de tarefas ao usar a medicação também parecia um indício claro.
Quando se tratava de ter padrões e expectativas elevadíssimos e não entregar um trabalho porque “não estava bom o suficiente”, eu disse a Diane que isso provavelmente era o perfeccionismo da mente com pensamento em arborescência. Quando ela me disse que não queria participar do mundo por causa da destrutividade e exploração humanas, expliquei que isso provavelmente era a depressão existencial típica dos PEAs.
Quando comentou que ficava dividida entre escrever exatamente o que queria no seu blog sobre reaproveitamento criativo de materiais ou “diluir” o conteúdo para alcançar um público maior, expliquei que isso era um dilema comum entre PEAs. Minha sugestão foi que ela escrevesse a partir do seu eu genuíno e totalmente engajado, pois isso seria mais satisfatório e provavelmente atrairia um público adequado, se falasse com voz autêntica.
Ao continuar explorando as preocupações de Diane sobre uma carreira futura, começamos a pensar sobre os benefícios e desafios da introversão. Embora ela dissesse preferir uma sala de aula presencial a uma online, ficou claro que Diane gostava muito mais de solidão. Esse era mais um aspecto que a fazia se sentir diferente e “anormal”.
Sugeri que ela lesse a literatura recente sobre introversão, como a pesquisa de Susan Cain, que fala sobre seus muitos benefícios. Diane descreveu uma irmã e uma cunhada extrovertidas e seu sentimento de estar fora de sintonia. Contou que gostava de explorar cidades e ruelas sozinha, não pelas pessoas, mas pelo “banquete visual”.
Desculpas por Acelerar
Diane me disse que se sentia culpada por “acelerar além dos outros”, especialmente no relacionamento com os pais. Um(a) PEA pode ter baixo desempenho por esse motivo. Como expliquei para Diane, o medo do sucesso pode vir de não querer superar os pais, amigos e até mentores. O desafio dela, então, era como apoiar os pais idosos sem ficar presa no mundo deles. Entender as questões e permitir que suas emoções fluíssem foi um bom começo.
Ela também leu mais sobre problemas de função executiva como forma de continuar a desvendar as causas de suas dificuldades. PEAs frequentemente fazem suas próprias pesquisas para responder às suas perguntas. Profissionais, inclusive eu, muitas vezes não são tão brilhantes quanto o(a) PEA, o que pode gerar frustração com “especialistas” que podem saber menos que o cliente.
Diane estava pesquisando sobre depressão, distimia, antidepressivos e impactos da dopamina no humor e na concentração para ver se encontrava respostas. Encaminhei-a para uma enfermeira psiquiátrica com experiência em TDAH. Por recomendação dela, Diane decidiu tentar medicação para sintomas de depressão enquanto continuava verificando se o neurofeedback traria resultados. Conversamos sobre como ela precisaria de uma equipe de profissionais devido à sua complexidade, e que nenhuma pessoa isolada teria todas as respostas. Embora isso fosse frustrante, era a realidade comum para PEAs.
Comecei a estudar mais sobre TDAH e encontrei os livros de Edward M. Hallowell particularmente úteis. Ele dizia que lidar com TDAH é um desafio para toda a vida e que é importante adotar uma abordagem multidimensional enquanto se mantém o senso de humor.
Hallowell recomendava fortemente o uso de medicação e explicava que a depressão frequentemente acompanha o TDAH. Ao me aprofundar no tema, pude ajudar Diane a aceitar o diagnóstico em vez de se rotular como preguiçosa. Em uma sessão, ela descreveu sua luta com o TDAH como tentar “controlar um monte de cobras se contorcendo, enfiando a mão no monte enquanto elas se enroscam umas nas outras, agarrando uma e tentando endireitá-la”.
Imagine a combinação de perfeccionismo e TDAH. Normalmente, padrões altíssimos e necessidade de precisão já geram frustração significativa. Mas, se você busca perfeição enquanto segura um monte de cobras agitadas, bem… é provável que os répteis vençam.
Mas Diane não desistiu. Felizmente, alguns meses depois, veio a uma sessão dizendo que suas “engrenagens estavam funcionando juntas” e que se sentia “em casa na própria pele” e até confiante. E isso veio no momento certo, pois ela planejava se mudar para outra região do país com o parceiro, que iria cursar o doutorado.
Diane disse que agora conseguia realizar tarefas com mais facilidade e sentia menos pressão para produzir perfeição. Ao mesmo tempo, conseguia apreciar seu perfeccionismo intrínseco ao projetar cuidadosamente melhorias para seu site. Relatou sentir-se mais autocompassiva de modo geral e estava animada para expandir sua loja online e iniciar um blog. Sentia-se pronta para expressar as muitas ideias que tinha girando em sua “mente não mais tão atrapalhada”.
Estratégias para navegar o perfeccionismo, a precisão e a procratinação
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- Mantenha seus padrões e ideais elevados. Sim, mantenha-os e ame-os. Apenas tente não esperar que os outros os tenham. Você pode querer encontrar outros PEAs tão exigentes quanto você para trocar feedbacks que terão mais significado e valor.
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- Embora seu perfeccionismo intrínseco possa levá-lo(a) a uma verdadeira grandeza, a resultados de alta qualidade e talvez até à evolução humana, tente ajustá-lo em momentos em que a perfeição e a transformação não estão em jogo. Considere que nem tudo o que você faz precisa ser tão completo e preciso. Cada e-mail realmente precisa ter pontuação perfeita? Escolha os projetos que você quer impecáveis e permita que outros sejam superficiais. Eles provavelmente ainda serão excelentes. Sim, é possível ter excelência sem perfeição. E você pode acabar fazendo mais.
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- Busque integralidade e equilíbrio em vez de perfeição.
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- Se tiver dificuldade com tarefas mundanas como papelada ou registros, peça ajuda para criar um sistema que organize sua agenda, seu escritório e/ou suas tarefas essenciais. Isso economizará tempo para que você volte ao que ama. Se isso parecer muito difícil, contrate um(a) coach, secretário(a) ou organizador(a) profissional. Se continuar adiando e se gestão de tempo e organização parecerem impossíveis, considere fazer uma avaliação para TDA.
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- Para mais informações sobre TDA e outras duplas-excepcionalidades, leia Bright Not Broken, de Diane Kennedy e Rebecca Banks.
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- Pratique permitir erros (especialmente se você for pai ou mãe). Um erro não é o mesmo que fracasso.
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- Você pode aprender mais com o fracasso do que com o sucesso. Algumas grandes invenções foram resultado de grandes fracassos. Como disse Thomas Edison: “Eu não falhei. Apenas descobri 1.200 ideias que não funcionam.”
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- Fracassos rendem ótimas histórias para encontros de família, memórias, palestras TED e rotinas de comédia.
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- Dê mais ênfase ao processo do que ao produto. A maior parte da sua vida é vivida na jornada, não no destino. Pratique medir seu sucesso por fatores que não sejam a “nota”. E o esforço? O prazer? A complexidade? As oportunidades de crescimento? O aprendizado de algo novo? Ou conhecer novas pessoas?
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- Divida projetos em partes menores. Faça uma lista de etapas específicas. Defina uma meta mínima e dê a si mesmo(a) 15 minutos para trabalhar nela. Espere contratempos. Dê pequenas recompensas pelo progresso.
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- Uma leitura rápida e inspiradora que ajudará você a encontrar sua musa e vencer a resistência é A Guerra da Arte, de Steven Pressfield.
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- Trabalhe para desenvolver uma “mentalidade de crescimento” em vez de uma “mentalidade fixa”. Esses conceitos são apresentados por Carol Dweck em seu livro Mindset. Ela sugere que você aborde a vida como um(a) aprendiz que pode sempre mudar e crescer, em vez de alguém que acredita que sua personalidade e inteligência estão “esculpidas em pedra”. Os erros deixarão de ser fracassos ou sinais de falta de valor, e passarão a ser oportunidades de descoberta. Dweck também observa que trabalhar em algo fortalece seu cérebro: ao aprender algo novo, novas conexões sinápticas se formam. Então, quando algo for difícil e você se sentir desconfortável com o esforço, lembre-se de que está “atualizando seu cérebro”. Mesmo com alguma controvérsia sobre partes da teoria de Dweck, ela pode ser útil.
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- Se você procrastina porque a vida parece lenta e monótona, busque mais estímulo intelectual ou um novo desafio.
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- Se uma voz interna crítica está sempre atacando você, pegue um diário e inicie diálogos com essa parte. Descubra por que ela é tão persistente. Veja que sentimentos e percepções surgem e escreva sobre eles. Encontre novas formas de satisfazer as necessidades dessa crítica por controle, como deixá-la “desabafar” por dez minutos por dia e depois pedir que recue. Tente entender como essa crítica está tentando protegê-lo(a). Agradeça pela ajuda equivocada e dê-lhe outra função. Confira livros sobre escrita de diário de autores como Christina Baldwin e Kathleen Adams.
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- Se você se sente desconfortável com sua introversão, leia O Poder dos Quietos, de Susan Cain.
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- Sua voz crítica pode ser resultado de crescer em um ambiente de abuso ou negligência emocional, sexual ou físico, ou em uma família com alcoolismo. Você pode precisar de um(a) bom(boa) terapeuta para trabalhar o impacto disso.
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- Talvez você já tenha feito muito trabalho interno sozinho(a) porque não encontrou profissionais mais capacitados que você. Pode ser desanimador procurar um terapeuta, mas não desista. Um(a) bom(boa) terapeuta pode fazer grande diferença em como você se vê e no seu processo de cura/individuação. Procure alguém que acompanhe sua velocidade e intensidade, que já tenha feito terapia pessoal e continue se desenvolvendo, que seja muito inteligente e altamente sensível, e cuja filosofia de aconselhamento combine com você. Confie na sua intuição.
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- Dois bons livros para lidar com a síndrome do impostor são Presença, de Amy Cuddy, e Os Pensamentos Secretos das Mulheres de Sucesso, de Valerie Young.
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- Se você não consegue reconhecer suas conquistas nem para si mesmo(a), reserve um tempo para lembrar de experiências das quais se orgulha. Relembre os detalhes e sinta no corpo a experiência de realização. Inspire a resposta positiva dos outros ou sua própria felicidade. Mesmo que você não queira depender de conquistas para sua autoestima, não precisa escondê-las nem sentir vergonha delas.
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- Evite o pensamento “tudo ou nada”, como acreditar que um projeto é perfeito ou é um fracasso. Pense nas partes que funcionaram bem e nas que não funcionaram. Um erro não torna o projeto inteiro um fracasso.
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- Se você se vê superando pais, professores ou mentores, permita-se sentir o conflito disso, assim como qualquer tristeza ou solidão. Dê a si mesmo(a) permissão para seguir em frente e procure colegas ou novos mentores.
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- Se tende a imaginar o pior resultado possível (catastrofizar), use a lógica e avalie se é realmente realista que o pior aconteça. Qual é um resultado mais provável? Você pode deixar de lado essa imaginação de desastre? Ou, se precisar imaginar o pior para se sentir preparado(a), reconheça que ele é improvável e que é apenas uma ferramenta para manter a calma.
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- Um ótimo recurso sobre perfeccionismo e procrastinação é Procrastination, de Burka e Yuen.
- Faça uma lista de suas próprias ideias para lidar com a procrastinação. A seguir, um trecho da lista de um(a) cliente adolescente:
– Começar cedo para ter tempo de “digerir” o trabalho.
– Criar um ambiente ideal de trabalho.
– Perceber quando está distraído(a) e voltar ao foco.
– Usar um cronômetro para tempo de trabalho e de pausa.
– Começar apenas com 15 minutos de trabalho.
– Beber bastante água. Comer lanches saudáveis.
– Lembretes: cada pequena coisa que você faz é boa.
– Mesmo que não esteja completo, o que foi feito até agora é bom.
– Você não precisa terminar, apenas escrever mais uma linha.
– Não pensar no quadro geral. Não pensar no que virá depois.
– O trabalho é um veículo para quem você quer se tornar.
– Hábitos negativos ou padrões podem ser mudados. -
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- Lembre-se das palavras de Steve Jobs no discurso de formatura de Stanford, em 2005:
Eu não percebi na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo.
O peso de ser bem-sucedido foi substituído pela leveza de ser um iniciante novamente, menos certo de tudo. Isso me libertou para entrar em um dos períodos mais criativos da minha vida…
Mantenha-se faminto.
Mantenha-se tolo.
1 comentário em “Perfeccionismo, Precisão, Procrastinação em pessoas com pensamento em arborescência, por Paula Prober”
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